O pai de uma aluna de 4 anos da Emei Antônio Bento, no Caxingui, zona oeste de São Paulo, acionou a Polícia Militar após descobrir que a filha havia desenhado a orixá Iansã durante uma atividade escolar.
No dia anterior, ele já havia demonstrado insatisfação com a proposta pedagógica — baseada no currículo antirracista da rede municipal — e chegou a rasgar um mural com desenhos das crianças, segundo relato de uma mãe.
Após o episódio, a direção orientou que o homem participasse da reunião do Conselho da Escola, marcada para as 15h de quarta-feira. Ele não compareceu, mas chamou a PM.
Por volta das 16h, quatro policiais armados, um deles com metralhadora, entraram na unidade. Eles informaram que haviam recebido denúncia de que a criança estaria sendo obrigada a assistir a uma “aula de religião africana”. Segundo testemunhas, a abordagem foi hostil. Os agentes afirmaram à direção que a atividade configuraria “ensino religioso” e que a aluna teria sido exposta a conteúdos contrários à religião da família.
A escola esclareceu que a atividade fazia parte da leitura do livro infantil Ciranda em Aruanda, que integra o acervo oficial da rede municipal. A obra, de Liu Olivina, apresenta 10 orixás em textos curtos e ilustrações. As crianças ouviram a história e, em seguida, realizaram desenhos.
A direção citou as leis nº 10.639/03 e nº 11.645/08, que tornam obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena, destacando que não havia caráter doutrinário.
Os policiais permaneceram na escola por pouco mais de uma hora. A supervisora de ensino foi acionada e esteve no local. Segundo uma mãe que preferiu não se identificar, os agentes demonstraram “abuso de poder” e assustaram crianças e funcionários. A diretora, abalada, precisou ser retirada do ambiente. “Foi necessário que um grupo de pais conversasse com os policiais para que fossem embora”, relatou.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública informou que os policiais conversaram com o pai e com a diretora, orientando ambos a registrar boletim de ocorrência, se desejassem. A pasta afirmou que a Corregedoria da PM está à disposição para apurar eventuais denúncias e que o armamento utilizado, incluindo metralhadora, faz parte do equipamento padrão da corporação.
A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Educação, esclareceu que o pai foi informado de que o trabalho da filha integra uma produção coletiva do grupo e reforçou que a atividade faz parte das propostas pedagógicas previstas no Currículo da Cidade, que determina o ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena.
Com informações do Metrópoles
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